domingo, 4 de abril de 2010

I

Não me dou bem com poucas palavras. Pra isso prefiro ilimitação de caracteres. Não dá pra resumir um sentimento, um tempo, um momento, uma gota de vida nisso. É mais ou menos como funcionam grandes microscópios ou o telescópio Hubble: quanto mais se amplia, mais se tem pra ver e admirar. Eu não consigo falar se não for assim. Não mais.

Crio este lugar com fins terapêuticos. Sou doente por mim mesmo, mas por mais paradoxal que isso possa parecer, isso está mais longe do que nunca do narcisismo. Preciso escrever o que passa, por onde passa e quando passa, pra que eu possa tentar descobrir PORQUE passa. E a única dica que eu tenho, sou eu. E eu acredito que as pessoas são filtros, sujos, de café ou bagaço de fruta. Pegamos a verdade e lemos, coamos através dos medos, crenças e culturas. Sai algo novo e bom, doce se tiver açúcar, mas muito longe dos pés de café, das laranjeiras, das fazendas.

Eu quero a fruta, sentir o cheiro dela, pegar nas folhas e esmagar elas na palma da mão. Mas nada é de graça. Faço isso pra me entender, ou ficar mais doente ainda, nada mais.

Muito vou dizer "eu" e "outros". Vou dar pulos de lá pra cá, dentro de mim, dentro da idéia das coisas, sem paradas programadas e sem guias. Não quero que me entendam. Pff, nem eu sei sobre isso! Quero que... Fiquem aí mesmo, do jeito sempre foram, porque eu sei que vocês que estão longe não vão mudar, os próximos mudarão pouco. Comparado a mim, que prevejo catástrofes subjetivas.

Tenho um terrível senso de regularidade criativa. Os recortes do mundo aparecem todos de uma só vez, dadaístas. Primeiro vou tentar catalogar eles aqui e em um caderno pessoal (minha enésima tentativa), sem exatamente uma ordem de importância, e o blog vai ser o resultado final. Posso parar de escrever do nada, mas isso não seria nenhuma novidade. A idéia é: as coisas mudam, por ora pouco ou muito de cada vez, e agora mudam rápido demais. Seja o que for que acontecer aqui, nesse lugar virtual, aconteceu comigo. Ou escrevi ou parei pra sempre-até-a-próxima-vez.

Um dos grandes incentivos pra começar aqui foi o desperdício. Digamos que sou um frequentador constante do transporte coletivo da cidade de Porto Alegre. Moro a meio termo do urbano e do rural (a microrregião é considerada "rurbana", no joking) e pego ônibus pra caralho. Pelos meus cálculos, nas viagens do dia-a-dia perco três horas em bus. Ainda não sei por que, e já me perguntei demais, mas é exatamente nos coletivos que isso aflora de forma mais violenta. Músicas, frases, versos, explicações sobre absolutamente qualquer coisa. Sinto meus ossos racharem, de cansaço, do dia cheio de serviço e aula, das músicas no MP4... E derivo.

Mas fica por isso mesmo. Só vomito, chego em casa, tomo um banho e estou limpo. Amanhã será um novo dia, igual a esse, mas novo, e é visível a diferença entre uma embalagem nova e uma velha. As vezes algo ainda fica ali, renitente demais. Ignoro na maior parte das vezes. Há alguns dias cheguei à conclusão de que isso era errado. Hoje parece sacrilégio. Mas quem sabe amanhã, todas essas linhas fiquem sem continuidade. Sem sentido. E eu ache outra coisa pra fazer, ou nada.

Vou curar isso. Espero que esse tratamento, esses pequenos curativos de agora, que o médico os leve em consideração. Que depois se atreva a passar uma sutura nesse lugar de onde brotam coisas. Talvez um dia, quem sabe, ele até costure a moleira com a qual eu nasci. Mas desconfio desse cara. Esse cara sou eu.

Um comentário:

  1. Haha, não me lembro de ter feito medicina, então, eu sou uma charlatona fazendo experiências íntimas mil dentro do R10.

    hahaha

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