segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Foto Velha

Esse é um texto velho. Data do começo de 2009, eu ainda não sabia muita coisa sobre coisa alguma. Não que eu saiba agora, mas acho que algo vai acontecer em bvreve e isso pode estar diretamente relacionado.

Apesar de muita coisa ter acontecido nesses últimos dias, estou inseguro. Estava tentando não pensar nisso, mas não sei como, achei esse texto velho e ele me encantou. Tá tri pesado em várias partes, mas muito pessoal e personalizado. Eu estava mal, me lembro e não sei como tirei vontade pra escrever algo melancólico. Não era nada muito importante, era só eu falando comigo mesmo porque não tinha com quem falar, provavelmente. Sei que não vou voltar pra exatamente aquilo, mas perto dos dias antes dos últimos dias, gostaria de poder encarar as coisas com o sorriso melancólico que eu tinha quando terminei ele.

Acho que gosto dele por que ele tem coisas que já não fazem mais sentido pra mim. Mas na época fizeram, por isso estão aí. Eu mudei.
======================================================================

Sim, nada começa pronto. Tudo se inicia pequeno, mínimo, atômico. Uma fração do que poderá se tornar se você colocar água e der sol, linguiça frita picada e muito daquilo que as mulheres chamam de "carinho" (não que os homens não saibam, mas preferem ignorar isso diante de outros semelhantes).

E as coisas crescem! E, ah meu garoto, aí se encaixam uma série de coisas. Foi o que eu disse no começo não?

Mas nada vem do Nada, pelo menos, a Física prova que não. Pelo menos, eu acho que a Física prova que não. Pelo menos, eu quero acreditar que a Física prova que não. Então, de onde vem aquela coisinha miserável que, quando tu menos percebe, cresce como um monstro do Power Rangers atingido pelo raio aumentador do capanga voador do vilão principal??? E, ah meu garoto, agora só com o Megazord pra derrotar isso você criou.

Sabe, eu não tinha visto nada, nem percebido. Ela passou como um raio. Um raio não, raios matam pessoas e são atraídos por pára-raios, que são coisas pontudas e eretas. Um relâmpago, isso. Aí foi o velho clichê do filme "aquele-lá-que-eu-não-vi-mas-finjo-que-sei". Borrada, de costas, cabelos meio compridos pendurados em cachinhos. Sei lá cara, não vi o rosto dela, nem se usava maquiagem ou se deixava ser usada pela maquiagem. Só sei que parecia bonita, e isso me tocou, fiquei afim da estranha sem nome perdida pelo campus (ou pela parada, praça, bar, sebo, sinaleira, chuveiro, cinzeiro de plástico, pintura do Roerich, conto do Lovecraft, anime qualquer).

Claro, depressão.

Dia quente e eu lá suando no preto, imaginando de onde diabos ela veio, e por que eu sentia aquilo de novo por alguém que eu nunca tinha visto. Pensei o suficiente pra me queimar com o sol na cara e o cigarro nos dedos. Sim porra, eu vou parar de fumar. Mas idéia vai, idéia vem, eu me dei conta de uma coisa: era nada mais, nada menos que A Verdade.

'Conceitue A Verdade' - diria um amigo meu pela milésima sobre o milésimo conceito que eu já expliquei. Mas agora é preciso, chega de subjetivismos. Buenas. A Verdade. Sabe quando tu tá com um problema meio serinho e as vezes aquilo fica te cutucando, enchendo o saco mesmo? Pois é, daí tu pensa, liga os neurônios remanescentes da última batalha, tenta criar relações. Orra, claro que tu faz isso, mas é normal que tu nem nota. Escrito na água.

Bom, então tu faz aquilo que te fez chegar ao que tu é hoje: tu exercita tua razão. Daí acontece uma coisa muito legal. Parece que tu cria uma idéia imbatível, insuperável, que nem todos os teóricos da ontologia e da estética teriam criado. Por um segundo (ou mais dependendo do nível de álcool) tu é Deus. É, é errado pensar isso, ou certo, tanto faz. O fato é que isso já deve ter te acontecido e foi isso que eu tive.

Sempre fui assim, idealista demais, abstrato demais. É uma fuga, lógico, qualquer psicólogo, psicanalista ou psicopata chega na mesma conclusão. É por isso que surtam. É por isso que eu surto. Ok, daí vem a voz daquele cara que sentava no fundão da sala, jogava bola pra caralho, era cercado de mulheres, usava "ûs pâno dûs mânu" e era cercado de mulheres e lambe-bolas da melhor pedigree. 'São hormônios cara, tu precisa por isso pra fora'. Seguem-se explicações obscenas sobre a pior seca que o teu Nordeste já teve.

Certo, tenho alguns anos atrasados em relação a isso, mas não é isso saca? Se fosse, eu já tinha ido resolver isso nos lugares onde se resolve isso. Ou não, por uma série de valores morais. Escolha uma opção e marque um X. O caso é, senhores, que o cavalheiro em foco precisa de alguém, alguém que lhe faça companhia, que lhe esprema cravos, que lhe mande parar de fumar (eu vou parar porra!!!), que faça lhe usar perf... que lhe compre um perfume e que brigue com o cavalheiro sempre que os dias dos meses forem irremediavelmente atingidos e ela seja possuída por uma fúria homicida do qual só ele pode ser o alvo.

A verdade é que eu gostaria disso. Sério cara, rotule do que quiser, eu penso muito nisso as vezes.

Entretanto, contudo, todavia, não obstante, minha futura formação na História me leva a pensar que tem algo mais no menos que isso foi. Tá, sem subjetivismos! Cara, vou tentar ser breve e o menos bucólico possível. Cresci no meio do mato, chutando raiz, correndo de pé descalço e achando o máximo um formigueiro aberto. Tipo Mogli saca? Longe de tudo, longe de todos. Claro tem seus prós e contras, é uma merda total tu ter que usar a Bolívia como ponto de referência pra onde tu mora. Mas eu ainda moro em Porto Alegre, uma capital foda, com mato e urbe dentro das fronteiras.

Mas tá!!! O homem é fruto do meio onde vive né? Porra, quem não leu O Cortiço do Aluísio, por favor. Pelo menos o Rousseau! Enfim che, essa idéia Iluminista se aplica na minha condição, acho eu. Tipo, eu tentei me misturar, fui em danceterias, descobri o álcool e a nicotina, muitas vezes melhores amigos, mas como tu vai refazer aquela tatuagem feia pra cacete que o tatuador chapado de figurinha fez nas tuas costas?

Tu tatua em cima!

Até ficar uma coisa borrada e disforme. Sim, me sinto no meio de uma tatuagem borrada. Não consigo mais ver o Mogli no meio das ruínas de alguma civilização perdida e muito menos o cara boa-pinta velho de trago e rua. Não sou nem um nem outro. Não sei mais quem sou. Preciso de alguém. Não tenho medo do escuro, mas deixa as luzes acesas. Sim, o cara era foda.

Logo, A Verdade que eu tinha criado naquela tarde de sol fudida pra caralho do inverno, que eu achava imbatível pra cacete e já me fazia mandar o Heidegger e o Hegel tomar no cu, virou fumaça que eu soprei devagar do cigarro. Anotei no caderninho "A Verdade é uma Mentira".

Claro, depois mudei de idéia pela saganésima vez, mas os momentos que nós temos essas sensações são terríveis. "Caralho, eu pensei tudo isso e não tirei o pé da merda... ".

E daí ela já devia estar onde ela deve estar, fazendo o que deve fazer, do jeito que deve fazer. E eu fiquei lá, viajando e suando naquela merda de sol, imaginando um monte de atividades coletivas que não seriam realizadas. Isso tudo vai se somando... esse texto todo é um resultado disso. Estourou. Um pequeno Big Bang. As vezes é mais, as vezes é menos.

As vezes só foi escrito na água. Ou a água refletiu o que eu tinha que escrever.

Preciso sair disso com urgência. Preciso que me soltem!!!

Soltem-me! Soltem-me!

Solto-me?

Nenhum comentário:

Postar um comentário