domingo, 5 de junho de 2011

Empatado

Desta vez, eu vou escrever o título por último.

Me sinto um idiota. Tenho ignorado este lugar que é especial para mim. Ignorado não é bem a palavra. Só tenho andado muito ocupado mesmo. Fato é que (de novo, depois de reler uns posts) venho aqui, simplesmente, utilizá-lo, sem nutrir nenhum carinho real por ele. Fato é que (de novo, mais uma vez) ninguém vai ler isso, embora eu gostaria que meus três seguidores lessem, pois quero ter a impressão de ter sido ouvido.

Dizem que a mentira tem perna curta, mas imagino que falam isso quando da mentira de uma pessoa para outra. Ninguém disse nada sobre mentir para si mesmo. Então, vou acreditar que vocês leram.

Depois dessa introdução imbecilmente necessária para mim, posso começar. Hoje, blog semi-abandonado, você é meu vaso sanitário. Fumei e bebi o suficiente para irritar minha garganta emocional, e vou vomitar em você todinho. (Rá, quem já viu um bêbado falando com o vaso antes de usá-lo?).

Muitas coisas aconteceram desde o último post, muitas mesmo, e posso dizer com alto grau de certeza, dado que respeito muito meu passado e o visito frequentemente, que vivi os melhores dias da minha vida desde lá. Foram realmente muito bons e me fizeram acreditar em filmes e textos literários com finais felizes. É estranho, mas às vezes eu tinha a impressão de estar fora do meu corpo. Eu conseguia me ver, cercado por satélites mais ou menos presentes de cima. E tudo brilhava. É sério! Não usei nada além de nicotina e tabaco agora e faz tempo que não uso exceções, embora agora pareça uma possibilidade razoável.

Eu conseguia flutuar e ver as coisas todas de cima, longe do meu eu real. Eu estava tão alto, mas tão alto que conseguia ver o topo das nuvens, do céu e daquilo que o imaginário popular chama de "paraíso". Eu, meu caríssimo vaso e pessoas que não estão lendo, estive além de toda realidade possível. Isso se deve a uma conjunção de fatores que não vão receber nomes, por que não são pessoas, e pessoas que não vão ser nominadas porque... Por que?

Dói, mas é porque este é o único lugar onde eu realmente me sinto seguro. E as pessoas me deixam inseguro em escala crescente conforme a importância que dou para elas. Não devo citar nomes e estragar a última coisa que me resta. Privacidade sentimental.

Enfim: nuvens, céu, sensação de completo, blá-blá-blá. Eu sabia que ia acabar, e por isso, me doei totalmente. Troquei todos meus compromissos, obrigatórios, inclusive, para fins sedimentares. Eu queria garantir minhas peças no lugar certo, de modo que fossem o mais apreciadas possível. Algumas vezes eu errei, coloquei elas um pouco mais pra lá e pra cá do que deveria, mas bem, elas estavam lá não estavam?

Não para os outros.

Esses dias reforçaram minha idéia (minha o caralho, digo isso porque me dei conta dela sozinho (bastante, aliás)) de que cada pessoa vê, entende e age no mundo de uma forma totalmente própria, por mais parecida que possa ser dos outros. Você nunca pode fugir de suas idiossincrasias, elas estão presentes em tudo o que você faz, mesmo que de uma forma mínima. Não importa que todo o seu armário seja de brechó, cada roupa tem o cheiro do primeiro dono.

Eu esperava que, pelo menos, houvesse uma flexibilidade e uma entrega tal qual a minha. Não houve. Me movi sozinho para conquistar os espaços de aproximação, e, porra, ficar próximo não? Era só isso o que eu queria. Que tudo continuasse certo. Pra fazer isso, além da sobrecarga da manutenção das peças que eu movera, eu tinha que engolir as peças que já estavam lá, que não coloquei e cujas quais não tinha responsabilidade além do que eu já tinha disposto.

Ok, já que falamos em peças, e isso tá muito subjetivo, vamos utilizar metáforas mais acessíveis. Até pra que eu não perca o significado disso depois. Xadrez. Se começa o jogo confiante. Duas torres. Dois bispos. Dois cavalos. Váááários peões. O "inimigo" (porque não é uma guerra, e sim, uma interação social) tem o mesmo número de peças, mas simplesmente se tem confiança. Atenção em "confiança", é uma palavra muito importante. Tu olha os quadradinhos vazios e começa a preenchê-los. Uma torre ali. Este cavalo vai fazer a diferença. Com esse bispo, eu tranco essa peça. Esses peões eu te dou. Voilá. Sua vez.

Aí tu te fode. Sem pensar né? Tu acredita na boa vontade do "inimigo" e ele não dá a mínima. Em poucas rodadas, tu já tá em xeque. Ele engoliu tuas peças, tuas vontades, tuas atitudes, inseguranças, medos, paixões e confiança e usou tudo isso contra ti. Como se numa mistura de Xadrez e Damas, tivesse feito várias peças novas e tivesse mais que no começo. Estou dominado, desesperado e não sei o que fazer.

Mas eu ainda tenho minha Rainha.

Chega uma hora que tu não engole mais sapos. Chega uma hora que mesmo o mais inocente dos jogadores se dá conta, antes que seja tarde demais. Não sei dos outros, mas eu vou usar minha Rainha agora e virar esse jogo. Se não querem mais jogar, posso sair de uma metáfora para outra, mas nunca vou pisar em fatores e pessoas reais. Se aproveitaram da tua confiança e tu virou uma marionete; tudo podem fazer contigo.

Agora, chega, eu vou usar minha Rainha de verdade. E se ninguém mais querer jogar comigo, eu jogo sozinho até alguém aparecer de novo.

Ou até que haja uma compreensão.

De que isso não é um jogo real. De que isso, na verdade, é puramente emocional e baseado na confiança. De que eu, como ser humano, mereço ser respeitado tal qual respeito. De que possa haver uma leitura das minhas atitudes como se fossem as dos outros, e assim, realmente, existir uma troca.

Já movi peças demais. Não é mais minha vez de jogar. Não tenho mais como confiar no meu "inimigo". Ele que se mova e termine o jogo como ele deveria terminar, antes que ele acabe de uma forma irreversível. Não vai ser fácil. É como se tu movesse teu cavalo, aquele que se move em "L" (sempre achei a peça mais legal por isso), e te dissessem, com as peças: "não vou comer ele, pode deixar aí". Adivinha? Noob.

Só que não haverão revanches, nem vingança da minha parte. Vou sim terminar o jogo, mas não sei se vou querer jogar de novo.

Porém, ainda há tempo.

Antes de usar minha Rainha e aniquilar a resistência, cônscio e de mente limpa de que não fiz nada errado, no sentido de querer o mal, ainda vou jogar mais um pouco. É aquela esperança na confiança moribunda que insiste em ver os movimentos. Não sei mais o que move ela, nem do meu lado, nem do outro. Espero que seja o passado. Espero que este jogo não termine mal, mas não posso mais mover nenhuma peça, senão vou me machucar. Que os outros movam suas peças e façam este jogo terminar como ele começou.

Empatado.

Um comentário:

  1. Se estivesse no meio do 'Recordações da casa dos mortos', do Dostoievsky, eu nem notaria a diferença entre os dois.
    Sim, eu fui a mentirosa, o vaso que te ouviu e recebeu teu vômito sentimental até o final hahaha
    Interessante tu estar escrevendo muito melhor, gramaticalmente falando.
    Pareceu um monólogo que não se decidiu se tem coragem de virar crônica ainda.
    Mas muito bom. Tu reclamas que voltou enferrujado, mas estás muito melhor que eu
    (que por sinal, devo estar indo para o segundo ano sem escrever contos :~. Mas
    ainda escrevo poesias, como filha de vênus que sou)
    beijucas, Fifi
    Não para mais de escrever e manda notícias pra essa amiga barriga verde de vez em quando o/
    Ah, escrevi no meu também. Depois dá uma olhada :x

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