quarta-feira, 25 de abril de 2012

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Meu último post foi no dia 14 de Julho do ano passado. Cara, faz quase um ano. Dezesseis mais trinta e um mais trinta e um mais vinte e nove mais trinta e um mais trinta e um mais trinta mais trinta e um mais trinta mais trinta e um mais trinta e um mais trinta e um mais dezesseis dá trezentos e sessenta e oito. Naturalmente meu cálculo está errado, porque não faz um ano que eu não posto, mas eu gostei de saber que o início e o fim da matemática começaram com dezesseis.

Não vou pensar em sinais. Gosto de procurar sinais nas coisas porque sei que eles não me dizem nada, mas eu gosto de acreditar que eles dizem alguma coisa. Nos últimos tempos tudo tem se resumido em sinais que eu não soube ler. Nunca vamos saber todo o alfabeto da vida que tem mais caracteres que o chinês, e isso nos frustra. Mas bem! Voltei pra cá. Tenho praticado a escrita e vou publicar coisas aqui. Também vou retrabalhar os únicos dois textos daqui que merecem isso o "Vazio" e o "Arrepios". Serão revisados e o "Vazio" vai ser, talvez, encaixado com outros contículos num só. Respeitando-se os limites claro.

Esses dias eu ouvi alguém, a Kyky, falar sobre você escrever cartas para você mesmo no futuro. Achei bastante bonito, poético e, o que muitos achariam, infantil. Não sou tão seguro de mim mesmo pra crer que escrever mensagens para você ler daqui a cinco, dez anos, é infantil. Mas também não posso negar que pensei isso quando ouvi. Tempos passaram e eu resolvi reler alguns textos daqui. Eu gosto daqui. É como voltar pra casa depois de uma longa estada no exterior. É muito bom rever as coisas todas no seu lugar, meus bonequinhos de brinquedo todos de pé na estante, meus livros com suas lombadas sérias demais pra uma criança, os ossos de bichos mortos que eu recolhi, a janela com aquele sol acalentador, eterno, esquentando a casa de madeira.

Descobri que gostei da experiência, ainda que acidental. Reli coisas antigas e percebi que estou diferente. Também me disseram, no mesmo contexto, inclusive, que eu não deveria jogar nada fora. As lembranças de papel eram os marcos pelas estradas por onde passei, de onde juntei terra. Acabei voltando pra produzir mais e mais lembranças até, um dia, poder ficar horas lendo e relendo tudo. De novo, como no primeiro post: não é simples narcisismo, é uma construção pessoal. Sei que todas as pessoas podem fazer o mesmo, todas elas possuem o mesmo conteúdo, só o tratam de maneira diferente.

É hora de voltar pra casa e pegar esses significados antigos, sujos de mofo, e, parafraseando pessoa querida; sujos de tempo. Refazer cálculos, tentar saber como eu talvez seria. Vou precisar disso não para me prender no passado, mas para poder me imolar de uma vez no futuro. Não quero acabar com as indecisões nem inchá-las, quero torná-las digeríveis e tratáveis. Não são ruins. Nada é totalmente ruim.Enfim, porra, como é bom voltar para casa.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Conto publicado

Um conto publicado no http://bibliotecasombria.webnode.com.br/

Na época, achava ele bom, mas hoje mudaria muitas coisas, entre elas, o final.

Vazio

Ela sentou do meu lado no ônibus, nos bancos do fundo, entre eu e o cara que dormia com os fones de ouvido. Eu conhecia ela. J. tinha sido minha colega nos tempos da escola e fez parte do grêmio estudantil. Estava mais magra, mais bem cuidada e em melhor humor teria conversado com ela. Mas eu estava me alimentando mal e minha conversa andava tão anêmica quanto meu sangue.

Fingi que não a conhecia e fiquei olhando pela janela. Quando ela foi se sentar entre eu e o discípulo de Morfeu, bateu a cabeça no teto baixo do ônibus. Não se deixou abalar com um ai. Vi que sorriu pra mim, tinha me reconhecido apesar do cabelo, dos dentes, dos olhos. "É, eu também te reconheci, mas não". A viagem prosseguiu e o silêncio instaurado entre nós oprimiu qualquer ação. Ela estudava na federal agora; eu sabia que desceria antes dela.

O momento chegou e eu preparei minhas coisas, algo que já teria feito o vizinho se movimentar para me dar passagem. A inação dela deixou a entender que ela queria que eu a reconhecesse. Senti seus olhos atrás da minha cabeça. Mal sabia que eu já tinha percebido isso antes dela me perceber, enquanto atravessava a roleta. Não havia sentido naquilo, simplesmente. Me levantei, pedi licença e ela me olhou, implorando com um sorriso. Levantou e me deu passagem.

Antes de passar por ela no corredor cheio do ônibus, disse um "obrigado" deixando claro que não a reconheci. Ela ficou de costas. Desci e fui fumar um cigarro para me sentir ainda mais fraco e vazio.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

VI

Aqui, esperando a aula na Letras, resolvo escrever. Não é por nenhum motivo literário, apenas me sinto ansioso e paranóico como de costume. É recorrente o diabinho da dúvida que me persegue indagando onde foi que começou essa minha "mania de perseguição". Sempre achei que fosse por causa do meu treino psicológico de ficar me questionando sempre a respeito das coisas que faço. "Será que foi a melhor atitude?", "Acho que isso que fiz não foi correto", "Eu deveria pensar mais antes de fazer alguma coisa".

É, é bom, mas, sinceramente, eu to cansado.

Cansado da minha insegurança que só quer que tudo aconteça certo. Matuto tanto em cima de alguma coisa, danço tanto com minha opinião sobre os quadrados da ação, que nunca paro de dançar. E não faço nada.

Cansado, cansado, principalmente, de ter que pensar no que os outros estão pensando. Eu não estou cansado de saco cheio, só estou exausto, exaurido. O cansaço é mental, não pela repetição, mas pelo esforço.

Uma hora vai chegar que eu vou me suicidar, ou me render. Meus pés tem bolhas e estão muito doloridos.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

V

Devido ao último post, creio que devo explicações.

Por que eu tenho esse blog? Eu gosto sim, que as pessoas leiam. Gosto que as pessoas comentem, dentro ou fora da rede, e tive uma ilusão passada de que talvez esse blog se tornasse popular e que as pessoas percebessem o quanto sou sensível e parecido com elas. Inspirando, talvez, uns e adquirindo o nojo de outros.

Mas a verdade, que ela se foda com todo o resto, é que eu não consigo. Era pra ser um troço literário por excelência e não por uma necessidade de ocultar minha auto-piedade de uma forma injusta e equivocada comigo mesmo.

Não sei me expressar, as pessoas não me entendem. Numa tentativa idiota de subverter minhas sensações em linhas eu transformo o mundo em bosta. A minha percepção do mundo é tão distorcida que parece um pastel de queijo depois de passar por todo o sistema digestivo: bosta. A merda é a única coisa que eu consigo compreender. Última, como todo post meu, ela tem um fim em si mesma, e essa porra de blog é, mais uma vez, o vaso onde eu cago tudo isso. Quem lê, eu esfrego a bunda na cara, é o papel.

Pra fazer esse esforço imbecil eu desconstruo o mundo. Na tentativa de entender ele com essa mente aparvalhada e cheia de coisas inúteis eu tenho que reduzir ele à minha realidade de excremento. Assim, se eu devoro uma rosa, tentando buscar o cheiro, a cor, a textura e uma realidade de primavera, eu mastigo e ela perde a cor. O estômago amassa e ela perde a textura. O intestino grosso libera ácidos e ela perde a primavera. Ela se instala no reto, perde o cheiro e espera até que eu venha aqui afrouxar os músculos que já doem, esperando alívio.

De que adianta eu vir aqui, defecar tudo isso? Ninguém me entende caralho! E daí que eu não superei a fase anal do Freud? E daí que eu não superei a solidão dos 15? Não dou tchauzinho pro meu cocô e nem fico me lamentando por coisas pequenas na maior parte dos casos. Mas às vezes a massa fecal é importante, eu gostaria que sentissem o mesmo cheiro que eu sinto.

Olha, quer saber, eu surtei. Odeio essa palavra.

Não consigo escrever mais nada.

IV

Vai tudo se foder.

terça-feira, 7 de junho de 2011

III

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW

Eu só queria gritar.

domingo, 5 de junho de 2011

Empatado

Desta vez, eu vou escrever o título por último.

Me sinto um idiota. Tenho ignorado este lugar que é especial para mim. Ignorado não é bem a palavra. Só tenho andado muito ocupado mesmo. Fato é que (de novo, depois de reler uns posts) venho aqui, simplesmente, utilizá-lo, sem nutrir nenhum carinho real por ele. Fato é que (de novo, mais uma vez) ninguém vai ler isso, embora eu gostaria que meus três seguidores lessem, pois quero ter a impressão de ter sido ouvido.

Dizem que a mentira tem perna curta, mas imagino que falam isso quando da mentira de uma pessoa para outra. Ninguém disse nada sobre mentir para si mesmo. Então, vou acreditar que vocês leram.

Depois dessa introdução imbecilmente necessária para mim, posso começar. Hoje, blog semi-abandonado, você é meu vaso sanitário. Fumei e bebi o suficiente para irritar minha garganta emocional, e vou vomitar em você todinho. (Rá, quem já viu um bêbado falando com o vaso antes de usá-lo?).

Muitas coisas aconteceram desde o último post, muitas mesmo, e posso dizer com alto grau de certeza, dado que respeito muito meu passado e o visito frequentemente, que vivi os melhores dias da minha vida desde lá. Foram realmente muito bons e me fizeram acreditar em filmes e textos literários com finais felizes. É estranho, mas às vezes eu tinha a impressão de estar fora do meu corpo. Eu conseguia me ver, cercado por satélites mais ou menos presentes de cima. E tudo brilhava. É sério! Não usei nada além de nicotina e tabaco agora e faz tempo que não uso exceções, embora agora pareça uma possibilidade razoável.

Eu conseguia flutuar e ver as coisas todas de cima, longe do meu eu real. Eu estava tão alto, mas tão alto que conseguia ver o topo das nuvens, do céu e daquilo que o imaginário popular chama de "paraíso". Eu, meu caríssimo vaso e pessoas que não estão lendo, estive além de toda realidade possível. Isso se deve a uma conjunção de fatores que não vão receber nomes, por que não são pessoas, e pessoas que não vão ser nominadas porque... Por que?

Dói, mas é porque este é o único lugar onde eu realmente me sinto seguro. E as pessoas me deixam inseguro em escala crescente conforme a importância que dou para elas. Não devo citar nomes e estragar a última coisa que me resta. Privacidade sentimental.

Enfim: nuvens, céu, sensação de completo, blá-blá-blá. Eu sabia que ia acabar, e por isso, me doei totalmente. Troquei todos meus compromissos, obrigatórios, inclusive, para fins sedimentares. Eu queria garantir minhas peças no lugar certo, de modo que fossem o mais apreciadas possível. Algumas vezes eu errei, coloquei elas um pouco mais pra lá e pra cá do que deveria, mas bem, elas estavam lá não estavam?

Não para os outros.

Esses dias reforçaram minha idéia (minha o caralho, digo isso porque me dei conta dela sozinho (bastante, aliás)) de que cada pessoa vê, entende e age no mundo de uma forma totalmente própria, por mais parecida que possa ser dos outros. Você nunca pode fugir de suas idiossincrasias, elas estão presentes em tudo o que você faz, mesmo que de uma forma mínima. Não importa que todo o seu armário seja de brechó, cada roupa tem o cheiro do primeiro dono.

Eu esperava que, pelo menos, houvesse uma flexibilidade e uma entrega tal qual a minha. Não houve. Me movi sozinho para conquistar os espaços de aproximação, e, porra, ficar próximo não? Era só isso o que eu queria. Que tudo continuasse certo. Pra fazer isso, além da sobrecarga da manutenção das peças que eu movera, eu tinha que engolir as peças que já estavam lá, que não coloquei e cujas quais não tinha responsabilidade além do que eu já tinha disposto.

Ok, já que falamos em peças, e isso tá muito subjetivo, vamos utilizar metáforas mais acessíveis. Até pra que eu não perca o significado disso depois. Xadrez. Se começa o jogo confiante. Duas torres. Dois bispos. Dois cavalos. Váááários peões. O "inimigo" (porque não é uma guerra, e sim, uma interação social) tem o mesmo número de peças, mas simplesmente se tem confiança. Atenção em "confiança", é uma palavra muito importante. Tu olha os quadradinhos vazios e começa a preenchê-los. Uma torre ali. Este cavalo vai fazer a diferença. Com esse bispo, eu tranco essa peça. Esses peões eu te dou. Voilá. Sua vez.

Aí tu te fode. Sem pensar né? Tu acredita na boa vontade do "inimigo" e ele não dá a mínima. Em poucas rodadas, tu já tá em xeque. Ele engoliu tuas peças, tuas vontades, tuas atitudes, inseguranças, medos, paixões e confiança e usou tudo isso contra ti. Como se numa mistura de Xadrez e Damas, tivesse feito várias peças novas e tivesse mais que no começo. Estou dominado, desesperado e não sei o que fazer.

Mas eu ainda tenho minha Rainha.

Chega uma hora que tu não engole mais sapos. Chega uma hora que mesmo o mais inocente dos jogadores se dá conta, antes que seja tarde demais. Não sei dos outros, mas eu vou usar minha Rainha agora e virar esse jogo. Se não querem mais jogar, posso sair de uma metáfora para outra, mas nunca vou pisar em fatores e pessoas reais. Se aproveitaram da tua confiança e tu virou uma marionete; tudo podem fazer contigo.

Agora, chega, eu vou usar minha Rainha de verdade. E se ninguém mais querer jogar comigo, eu jogo sozinho até alguém aparecer de novo.

Ou até que haja uma compreensão.

De que isso não é um jogo real. De que isso, na verdade, é puramente emocional e baseado na confiança. De que eu, como ser humano, mereço ser respeitado tal qual respeito. De que possa haver uma leitura das minhas atitudes como se fossem as dos outros, e assim, realmente, existir uma troca.

Já movi peças demais. Não é mais minha vez de jogar. Não tenho mais como confiar no meu "inimigo". Ele que se mova e termine o jogo como ele deveria terminar, antes que ele acabe de uma forma irreversível. Não vai ser fácil. É como se tu movesse teu cavalo, aquele que se move em "L" (sempre achei a peça mais legal por isso), e te dissessem, com as peças: "não vou comer ele, pode deixar aí". Adivinha? Noob.

Só que não haverão revanches, nem vingança da minha parte. Vou sim terminar o jogo, mas não sei se vou querer jogar de novo.

Porém, ainda há tempo.

Antes de usar minha Rainha e aniquilar a resistência, cônscio e de mente limpa de que não fiz nada errado, no sentido de querer o mal, ainda vou jogar mais um pouco. É aquela esperança na confiança moribunda que insiste em ver os movimentos. Não sei mais o que move ela, nem do meu lado, nem do outro. Espero que seja o passado. Espero que este jogo não termine mal, mas não posso mais mover nenhuma peça, senão vou me machucar. Que os outros movam suas peças e façam este jogo terminar como ele começou.

Empatado.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A ordem das coisas

Certas coisas nunca mudam. Nós é que mudamos.

Com essas frases pseudo-filosóficas, começo a lembrança das peripécias dos últimos dias. Convém lembrar que isso não tem sentido nenhum. Abri a aba e me deu vontade de escrever. Sorte que quem não vai ler isso. Bueno, por mais que eu quisesse que me devolvessem o passado, acho que ia pegar ele na mão, olhar e devolver. "No, thanks". Certamente ia sentir uma satisfação calhorda em fazer isso, mas é verdade, não troco o hoje por nada e esses devaneios pretéritos se foram, adiós.
Só servem pra me lembrar do caminho até o agora.

Eu tinha um texto escrito assim também, meio no grito das idéias e dos dedos. Xô ver se tá salvo. Ah, tá aqui: (PS: não vou gastar isso aqui, sorry. Já tem destino, CEP e horário).

Me olho no espelho e digo: "you're not more single". Não esperava, não esperava mesmo. Logo de saída, já cometi uma traição. Cigarros que seriam fumados e garrafas que seriam entornadas, me perdoem, mas vocês foram trocados. Não que eu não ame mais vocês, mas as coisas mudaram e vocês sabiam que isso ia acontecer (e não me avisaram). Soltem fumaça e tampas por aí na boca dos outros, não me importo, estão livres. É triste, mas eu sentia um certo entusiasmo por essa lenta decadência que eu ia construindo pra mim. Cedo ou tarde ia largar as coisas que me distanciavam disso e ia me dedicar ao clichè do artista não reconhecido, que eu sempre invejei. Aí que tá o mais bizarro de tudo: eu sinto saudade do que não tive.

Bueno, se há saudade do que não foi, é porque não poderia ter sido. Pequenas atitudes movem o Universo. Depois do meu fracasso, que não é decisivo, veja bem, na tentativa de entrar pra Oficina do Assis Brasil ficou claro que ainda não é momento pra isso. Se houver algum momento pra isso no futuro. Depende de você, diria Sartre. Eu sempre concordei com o careca hilariamente estrábico, mas hoje é difícil acreditar que realmente sou senhor de mim mesmo. Não sou. Sempre quis ter alguém para viver e me preocupar, olha aquele texto antigo lá! Olha che; tu vai dizer que é mentira agora? Hein? Vai dizer? Diga, minta pra si mesmo como eu minto pra mim todos os dias. Minto sim, e chego no fim de cada um desses dias descobrindo com todo o prazer que a mentira era só uma mentira, ajudado pela minha cama vazia. Hoje, com as cobertas meio tristes, a mentira foi um pouco de verdade, mas a verdade é as cobertas não vão ser tristes como já foram.

Chega disso, eu sempre perco o controle dessas coisas. Uma hora vou vomitar tudo mesmo, de verdade e aí eu quero ver o que sobra de mim. Grande medo esse. As mutações estão acontecendo de forma muito veloz comigo. O que ontem era montanhoso e monolítico hoje é uma barra de manteiga no verão. Era inevitável, admita. Por outro lado é bom, só as coisas minhas mais fortes e realmente enraizadas vão ficar, levantando o piso novo com as raízes. Vida. Tenho certeza que ela vai combinar perfeitamente com esses novos azulejos que me deram.

As coisas todas estão aí, esperando que eu dê um significado novo pra elas depois do que me aconteceu. Elas sabem que aconteceu. Ficam me olhando estáticas, esperando uma resposta. E agora meu Deus? Não quero magoar ninguém. Acho melhor ir falando com uma de cada vez. Estudos, desenhos, amigos, trabalho, pais, natureza e todo o resto que era tão sólido dentro de mim, tem toda a razão de se sentir injuriado agora. Eu mudei, então elas também mudaram. E elas não sabem o que fazer se eu não me mexer; elas se movem comigo. Esperem, calma. Uma de cada vez.

sábado, 11 de dezembro de 2010

In Towers

Eu gosto do campo. É bom estar em campo. Me sinto mais livre aqui, embora eu esteja numa lan house e isso me limite bastante. Faz tempo que não escrevo mas tenho bons, excelentes motivos. Alguém me prende e me mostra coisas novas. Acho que algo novo se aproxima e eu não consigo ter medo, só me entrego e vivo a coisa devagar, degustando. Tenho receios, mas são infundados. Sou vítima, às vezes, de meus próprios boicotes. Saudades.

Estou fazendo um diário de campo. Comecei atrasado, cheguei aqui dia 6 de Dezembro e estreiei nas pautas só no dia 9. Tudo bem. A maior parte dele é bastante técnica. Eu queria algo um pouco mais livre, do tipo "visões" da coisa. Isso me lembra aquilo. Isto me dá um insight. Aquilo ali remete algo. Tudo em movimento. Mas não deu ainda, há pouco tempo para escrever no caderno e eu me limito a assuntos técnicos. Tudo bem, ainda vou ter mais tempo na próxima saída de campo em Janeiro.

Um lembrete público, embora ninguém leia isso: apolíneo, dionisíaco e aquilo que une os dois.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Foto Velha

Esse é um texto velho. Data do começo de 2009, eu ainda não sabia muita coisa sobre coisa alguma. Não que eu saiba agora, mas acho que algo vai acontecer em bvreve e isso pode estar diretamente relacionado.

Apesar de muita coisa ter acontecido nesses últimos dias, estou inseguro. Estava tentando não pensar nisso, mas não sei como, achei esse texto velho e ele me encantou. Tá tri pesado em várias partes, mas muito pessoal e personalizado. Eu estava mal, me lembro e não sei como tirei vontade pra escrever algo melancólico. Não era nada muito importante, era só eu falando comigo mesmo porque não tinha com quem falar, provavelmente. Sei que não vou voltar pra exatamente aquilo, mas perto dos dias antes dos últimos dias, gostaria de poder encarar as coisas com o sorriso melancólico que eu tinha quando terminei ele.

Acho que gosto dele por que ele tem coisas que já não fazem mais sentido pra mim. Mas na época fizeram, por isso estão aí. Eu mudei.
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Sim, nada começa pronto. Tudo se inicia pequeno, mínimo, atômico. Uma fração do que poderá se tornar se você colocar água e der sol, linguiça frita picada e muito daquilo que as mulheres chamam de "carinho" (não que os homens não saibam, mas preferem ignorar isso diante de outros semelhantes).

E as coisas crescem! E, ah meu garoto, aí se encaixam uma série de coisas. Foi o que eu disse no começo não?

Mas nada vem do Nada, pelo menos, a Física prova que não. Pelo menos, eu acho que a Física prova que não. Pelo menos, eu quero acreditar que a Física prova que não. Então, de onde vem aquela coisinha miserável que, quando tu menos percebe, cresce como um monstro do Power Rangers atingido pelo raio aumentador do capanga voador do vilão principal??? E, ah meu garoto, agora só com o Megazord pra derrotar isso você criou.

Sabe, eu não tinha visto nada, nem percebido. Ela passou como um raio. Um raio não, raios matam pessoas e são atraídos por pára-raios, que são coisas pontudas e eretas. Um relâmpago, isso. Aí foi o velho clichê do filme "aquele-lá-que-eu-não-vi-mas-finjo-que-sei". Borrada, de costas, cabelos meio compridos pendurados em cachinhos. Sei lá cara, não vi o rosto dela, nem se usava maquiagem ou se deixava ser usada pela maquiagem. Só sei que parecia bonita, e isso me tocou, fiquei afim da estranha sem nome perdida pelo campus (ou pela parada, praça, bar, sebo, sinaleira, chuveiro, cinzeiro de plástico, pintura do Roerich, conto do Lovecraft, anime qualquer).

Claro, depressão.

Dia quente e eu lá suando no preto, imaginando de onde diabos ela veio, e por que eu sentia aquilo de novo por alguém que eu nunca tinha visto. Pensei o suficiente pra me queimar com o sol na cara e o cigarro nos dedos. Sim porra, eu vou parar de fumar. Mas idéia vai, idéia vem, eu me dei conta de uma coisa: era nada mais, nada menos que A Verdade.

'Conceitue A Verdade' - diria um amigo meu pela milésima sobre o milésimo conceito que eu já expliquei. Mas agora é preciso, chega de subjetivismos. Buenas. A Verdade. Sabe quando tu tá com um problema meio serinho e as vezes aquilo fica te cutucando, enchendo o saco mesmo? Pois é, daí tu pensa, liga os neurônios remanescentes da última batalha, tenta criar relações. Orra, claro que tu faz isso, mas é normal que tu nem nota. Escrito na água.

Bom, então tu faz aquilo que te fez chegar ao que tu é hoje: tu exercita tua razão. Daí acontece uma coisa muito legal. Parece que tu cria uma idéia imbatível, insuperável, que nem todos os teóricos da ontologia e da estética teriam criado. Por um segundo (ou mais dependendo do nível de álcool) tu é Deus. É, é errado pensar isso, ou certo, tanto faz. O fato é que isso já deve ter te acontecido e foi isso que eu tive.

Sempre fui assim, idealista demais, abstrato demais. É uma fuga, lógico, qualquer psicólogo, psicanalista ou psicopata chega na mesma conclusão. É por isso que surtam. É por isso que eu surto. Ok, daí vem a voz daquele cara que sentava no fundão da sala, jogava bola pra caralho, era cercado de mulheres, usava "ûs pâno dûs mânu" e era cercado de mulheres e lambe-bolas da melhor pedigree. 'São hormônios cara, tu precisa por isso pra fora'. Seguem-se explicações obscenas sobre a pior seca que o teu Nordeste já teve.

Certo, tenho alguns anos atrasados em relação a isso, mas não é isso saca? Se fosse, eu já tinha ido resolver isso nos lugares onde se resolve isso. Ou não, por uma série de valores morais. Escolha uma opção e marque um X. O caso é, senhores, que o cavalheiro em foco precisa de alguém, alguém que lhe faça companhia, que lhe esprema cravos, que lhe mande parar de fumar (eu vou parar porra!!!), que faça lhe usar perf... que lhe compre um perfume e que brigue com o cavalheiro sempre que os dias dos meses forem irremediavelmente atingidos e ela seja possuída por uma fúria homicida do qual só ele pode ser o alvo.

A verdade é que eu gostaria disso. Sério cara, rotule do que quiser, eu penso muito nisso as vezes.

Entretanto, contudo, todavia, não obstante, minha futura formação na História me leva a pensar que tem algo mais no menos que isso foi. Tá, sem subjetivismos! Cara, vou tentar ser breve e o menos bucólico possível. Cresci no meio do mato, chutando raiz, correndo de pé descalço e achando o máximo um formigueiro aberto. Tipo Mogli saca? Longe de tudo, longe de todos. Claro tem seus prós e contras, é uma merda total tu ter que usar a Bolívia como ponto de referência pra onde tu mora. Mas eu ainda moro em Porto Alegre, uma capital foda, com mato e urbe dentro das fronteiras.

Mas tá!!! O homem é fruto do meio onde vive né? Porra, quem não leu O Cortiço do Aluísio, por favor. Pelo menos o Rousseau! Enfim che, essa idéia Iluminista se aplica na minha condição, acho eu. Tipo, eu tentei me misturar, fui em danceterias, descobri o álcool e a nicotina, muitas vezes melhores amigos, mas como tu vai refazer aquela tatuagem feia pra cacete que o tatuador chapado de figurinha fez nas tuas costas?

Tu tatua em cima!

Até ficar uma coisa borrada e disforme. Sim, me sinto no meio de uma tatuagem borrada. Não consigo mais ver o Mogli no meio das ruínas de alguma civilização perdida e muito menos o cara boa-pinta velho de trago e rua. Não sou nem um nem outro. Não sei mais quem sou. Preciso de alguém. Não tenho medo do escuro, mas deixa as luzes acesas. Sim, o cara era foda.

Logo, A Verdade que eu tinha criado naquela tarde de sol fudida pra caralho do inverno, que eu achava imbatível pra cacete e já me fazia mandar o Heidegger e o Hegel tomar no cu, virou fumaça que eu soprei devagar do cigarro. Anotei no caderninho "A Verdade é uma Mentira".

Claro, depois mudei de idéia pela saganésima vez, mas os momentos que nós temos essas sensações são terríveis. "Caralho, eu pensei tudo isso e não tirei o pé da merda... ".

E daí ela já devia estar onde ela deve estar, fazendo o que deve fazer, do jeito que deve fazer. E eu fiquei lá, viajando e suando naquela merda de sol, imaginando um monte de atividades coletivas que não seriam realizadas. Isso tudo vai se somando... esse texto todo é um resultado disso. Estourou. Um pequeno Big Bang. As vezes é mais, as vezes é menos.

As vezes só foi escrito na água. Ou a água refletiu o que eu tinha que escrever.

Preciso sair disso com urgência. Preciso que me soltem!!!

Soltem-me! Soltem-me!

Solto-me?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Lembranças e Música

Há certas coisas terrivelmente ruins de serem expressas com palavras. Música seria algo ideal, realmente. Me surpreendo e temo como a música traduz... coisas. Bem, e as músicas que você estraga? São aquelas músicas que você relaciona com determinado evento-coisa e, tipo, elas são boas. Mas depois daquilo te derrubar e enfiar mil agulhas em brasa veia adentro ela só serve pra acender o braseiro. As agulhas você mesmo faz questão de enfiar e girar, torcer e escrever iniciais e pedaços da letra. Essas se perdem, pena, eram músicas muito boas.

As lembranças também são afetadas de forma semelhante. Não há como descrever certas lembranças. Para mim algumas se perdem, difusas, na névoa do esquecimento. Não gosto quando isso acontece, eu me pauto por muitos eventos do passado e as vezes eu percebo que ocorrem "remendos". Não são intencionais, mas acontecem. Uma lacuna numa memória é "remendada" com uma parte de outro evento ou uma parte inventada. Sempre é nas memórias mais dolorosas e marcantes. Por algum motivo, meu inconsciente deixou algumas memórias apodrecerem. São documentos valiosos dos quais eu não tirei cópia.

Por exemplo, eu me lembro do término do meu segundo namoro. Foi muito especial, porque foi o último namoro que eu tive. Quarenta dias antes eu me despedia dela num encontro da banda da escola no Cenoura Pastéis. Eu estava feliz, ela parecia estar, mas eu não aproveitei o momento. Não me senti feliz o suficiente. Se fosse hoje eu ia ver o sol de noite, todas as estrelas brilhando juntas, muito próximas da Terra. Essa parte não teve remendos de nenhuma espécie. Eu lembro dela no meu colo, eu beijava ela. Lembro de mãos dadas e um sorriso cheio de dentes. Lembro dela entrando no carro do pai dela.

Fui para a praia. A estada de duas semanas se estendeu para três. De três para quatro. De quatro para cinco e mais umas horas. Lembro de chamadas pro celular dela. Lembro da minha inocência de achar que sabia alguma coisa sobre relacionamentos e ficar dias sem ligar. Não lembro da viagem, deve ter sido igual a qualquer outra. Cheguei em Porto Alegre. Combinamos um encontro no Praia de Belas. Cheguei bem mais cedo, como de costume. Ela chegou e negou meu beijo. Sentou e disse algo que eu apaguei da memória. Isso já não era meu inconsciente, eu mesmo fiz isso voluntariamente. Deveria ser horrível.

Eu moro em Belém Velho há dezesseis anos, um bairro conhecido por ninguém conhecê-lo. É uma área rural de estradas de chão e cavalarianos com seus cavalos por toda a parte, pastando. Tem um córrego com uma ponte bonita perto da minha casa. Eu atravessei esse córrego depois de quatro horas de caminhada. Depois que ouvi a sentença, ela ficou segurando minha mão enquanto eu me segurava para não chorar no meio do shopping. A certa altura, ela cansou e foi embora. Resolvi ir também. Hoje descobri que minha casa dista quinze quilômetros e meio do maldito shopping, mas devo ter caminhado mais, por que segui o único caminho que eu conhecia, o do ônibus, que não é o mesmo do Google Maps.

Apesar do murro que tinha levado, me empolguei. Sempre gostei de fazer coisas idiotas, mas nunca tive motivos pra nenhuma delas. Agora eu tinha. Estava de cuturnos, na época eu só usava cuturnos pesados com duas meias para não fazer bolhas. Eu testaria minha resistência. Comecei a caminhar e na Padre Cacique ainda estava intoxicado com o que havia acontecido. Na frente do Tesourinha, eu acho, tinha um encontro de evangélicos. Poderia ter matado todos facilmente se não fosse um covarde acuado porque tinha terminado com a namorada. Enquanto eu caminhava, pensava coisas assim.

Dessa parte até o morro da Glória eu só lembro da música que eu estraguei. Era uma música que a maioria das pessoas não iria gostar. Odiosa e rápida ela passava na minha cabeça traduzindo perfeitamente tudo o que eu sentia. Ainda ouço ela às vezes. Na hora dos dois solos finais me vem a imagem que tinha do alto do morro da Glória. Agora é um monte de casas de alvenaria rejuntada onde mora um pessoal relativamente carente. Eu havia transformado aquilo numa paisagem onde o sol morria, a luz dele sangrando por cima do cume do morro oposto ao meu. Foi lindo. Também foi necessário.

Depois, apesar de faltar quase metade do caminho, eu cheguei em casa rapidamente, e a música foi estragada de uma vez por todas.

Não sei se meu inconsciente amputou essa lembrança pro meu bem, mas cheguei num ponto que não sou mais capaz de saber o que é melhor para mim. Outro poder arrasador de uma lembrança é o fato de arrastar junto com ela muitas outras do mesmo teor. Depois, vem as músicas e as agulhas em brasa e o estrago vai estar completo por dentro. Eu não tive vontade nenhuma de escrever isso. Mas se não fizesse, talvez fosse pior.

Dentes Tortos Sempre Estão Errados

Eu REALMENTE não queria que isso (o blog) se tornasse o que se tornou. Era pra que houvesse, sim, expressão. Mais de uma pessoa e eu mesmo me dizem que eu escrevo bem. Isso não é educado, mas sincero, sim, concordo. Entretanto cavalheiros, isso requer vontade e inspiração. E essas coisas nunca andam juntas no que concerne a mim. Hoje, eu abro mão de tentar tornar isso um espaço mais literário e vou começar... Melhor não pontuar nada. Nunca termino o que começo. Mas esse post vai ser o contrário do que queria que fosse: puramente fossal e auto-biográfico, que no meu mundo querem dizer a mesma coisa.

Na verdade eu tenho medo de que as pessoas por um acaso divino saibam desse lugar e leiam isto. Mas em parte, isto aqui que eu vou vomitar é para elas. Não sei se é auto-piedade, pode ser que tenha um pouco. Todavia prefiro imaginar que vou escrever e mandar lavrar isso no cartório pra depois abrir um buraco na parede e cimentar. Tenho vergonha. Foda-se não vou saber explicar. Só estou jogando constatações para cima, achando que elas são pedaços da verdade. Melhor pôr o dedo na garganta de uma vez.

O pior no tocante a momentos é a consciência deles. Eu estava bem até mais ou menos a época do teatro de LIBRAS. Acordava de manhã muito bem disposto. (Estou tentando desistir de escrever nesse exato momento, se as frases ficarem mais desconexas do que já estão, ignore) Me vestia, tomava o meu café-da-manhã de 30 segundos, escovava os dentes e ia pegar dois ônibus com um sorriso na cara, lembrando as piadas que haviam sido feitas no outro dia. Eu até planejava piadas pro pessoal do laboratório. Eu tinha metas, ainda tenho elas, pelo menos as mais distantes que só dependem de mim. Mas coisas mais urgentes, que sempre receberam esse rótulo da minha parte, pareciam ter sumido. Era isso. E eu sabia.

Eu gostaria de ser mais explícito, mas não posso. Não tem porque nenhum, não posso e deu. Só sei que aconteceu e eu saí da órbita, totalmente. Não foi de uma hora pra outra. Eu tentei resistir ao inverno russo. Mas eu sentia que estava ficando cada vez mais amuado e taciturno. O que antes eu conseguia me dedicar, sentar a bunda, fazer e ainda depois ir jogar bola, eu já não consigo. O último estertor foi o levantamento das fontes que serviam na minha pesquisa, oriundas de uma listagem de 5000 livros. Fiz ela em três tardes, pesquisando em duas instituições e dois sites de sebos virtuais. Tenho orgulho dessa última resistência, guardei um lugar especial pra ela nas minhas memórias.

Depois, degringolou. Não tinha mais como evitar a percepção dos meus colegas de laboratório. Me sinto culpado por estar preocupando eles com meus problemas. Se eles soubessem que eu faço tempestade em martelinhos d'água, ririam de mim. Com razão, mas eu ia me irritar. Pra mim é algo sério demais, embora seja extremamente infantil pra um cara com 22 anos na cara. Sou assim, meus dentes são tortos e eu nunca me preocupei em arrumar eles. Acho que afastei muitas pessoas por causa disso e isso me fez mal. Algumas foram, e eu não queria que fossem. Outras que mereciam ir hoje merecem uma segunda chance.

Um teste na internet disse que eu sou muito sensível. Eu já sabia, mas precisava da internet pra me confirmar. Perdi o apetite. É sempre a primeira manifestação. Quem se alimenta mal, trabalha e estuda mal. Acorda mal. Dorme mal. Pensa mal. Já era tarde demais pra me debater. Como já aconteceu antes, só me deixei levar pelo caos. Voltei a fumar com tudo. Segunda agora, chego atrasado na faculdade, na hora do intervalo. Coopto o Feio, coitado, a matar o resto da aula e ir beber comigo. Ele reluta, mas vai. Cara, só até as 11 horas que eu quero pegar meu material. Ok. Dali a seis garrafas de cerveja o Bob me liga. "Ô meo! A aula acabou, tô com as coisas do Feio". Tá bom, já vamos, só mais uma pra finalizar. Comendo mal e pesando 55 quilos dá pra imaginar o meu estado.

Chego no laboratório fedendo a cerveja e a cigarro. Falo qualquer coisa com as pessoas por um tempo etéreo e deito na minha mesa. Durmo profundamente por uns 20 minutos. Acordo muito mal. Resolvo ir pra casa de carro. Apesar de estar muito bêbado, chego em casa em um só pedaço. Depois de almoçar um miojo eu durmo, quando acordo, sinto remorso. A verdade é: estou me destruindo. Talvez no próximo trago eu não chegue em casa, mas isso não me apavora. Agora eu já liguei o foda-se.

Não preciso temer que a fossa aumente. Hoje, chegou no último estágio. Não tem mais como piorar e isso me alegra. Também trouxe a resolução de outros problemas relacionados a isso. Mas sigo em frente, firme, no calvário. Por algum tempo não há solução, a solução é dizer que isso faz parte da vida e se sentir vivo. Talvez meus dentes tortos tenham estragado tudo, mas acho difícil. Foi uma briga totalmente desigual.

Tudo isso que eu escrevi agora ficaria sem sentido nenhum se eu não falasse deles. Amigos, o que eu seria sem eles? Nada. Se não fosse por pessoas assim, talvez hoje não estivesse escrevendo isso. Sério. Um deles conseguiu me fazer sorrir hoje e outro me deu a inspiração pra que tudo isso saísse da minha cabeça. Mesmo forçado do jeito que foi. Eles me dizem pra arrumar meus dentes. Acho que estou me convencendo, mas vai doer. Vai doer pra burro.

sábado, 30 de outubro de 2010

Ah sim, eu nunca começo de onde parei.

"A pior parte é o primeiro capítulo..." Mas e quando você já escreveu ele MESES atrás? Ontem, no curso de arqueologia, aprendi sobre um cara chamado Ludwig von Bertalanffy. Na real, eu já conhecia ele, de um espasmo de sede cerebral que tive quando tentei ler mais sobre teorias totais e o filme do Efeito Borboleta.

Mas, se o raciocínio for um Pringles (que eu nunca tinha comido antes de Jaguarão), um Club Social ou qualquer bolacha que a gente come pra enganar a fome; eu acabo de quebrar ele, porque li os posts anteriores, porque já tinha me esquecido completamente deste lugar virtual e porque "alguéns" me deram tapas indiretos, diretos e repetitivos pra voltar pra isso.

Agora, eu estarei muito próximo de um choque anafilático:

1 - Postei um comentário sobre algo que me fez lembrar daqui de novo.
2 - Estou baixando um álbum de música catártica que não é o Pablo Honey do Radiohead, embora eu devesse deixar de ser preguiçoso e ouvir ele também.
3 - Li meus dois posts anteriores e ficou claro que o título deles deveria ser "Métodos para alargar sua corda-bamba subjetiva I e II".
4 - Não sei se estou escrevendo isso só para mim no mesmo sentido em que uso roupas específicas.
5 - Tirei a conclusão de que deveria enumerar motivos para voltar a escrever em um blog (eu tinha escrito, por engano, "blob". Até onde isso é uma bolha?) dentre os quais: esqueci.
6 - Ando MUITO esquecido.
7 - Ultimamente meu tempo tem sido gasto em algo que me dê mais segurança do que devaneios existenciais. Foi muito bom enquanto eu consegui manter o equilíbrio, a wa. Porém, eu não consigo manter as coisas regulares por muito tempo, sozinho. Páginas e páginas de figura de linguagem específica, literalismos e coisas específicas me deram alguma garantia. Mas quem nasce no pântano tem os dedos verdes, embora possa ter meias de todas as cores.
8 - Lembrei do 5. É melhorar a memória.
9 - Ainda na análise mnemônica: um dia cheguei tão cansado em casa, que quando estava lendo Xógum do Clavell, chegou uma parte onde o Toranaga fazia uma manobra política muito foda.
Daí eu pensei "Rá! Ele fez isso pra deixar os caras assim!!!". Só que depois eu não sabia se isso era uma dedução, ou uma memória minha porque já li o livro.
0 - É estranho como a literatura acadêmica dá mais dinheiro do que a de lazer, com muito menos leitores.
11 - Eu tenho coisas:
"Angela diz:
tem aqueloutros que você não postou né
safardana
Filipi diz:
e perdi
formatei a maquina
Angela diz:
puta merda
Filipi diz:
vou escrever
Angela diz:
eu tinha
Filipi diz:
tu tinha?
Angela diz:
alguns que tu me mandou
Filipi diz:
tu tem?
Angela diz:
mas meu note acaba de quebrar
quebrou geral
não sei se consigo recuperar
):"

Acho que quero ler isso. Na verdade sei que vou me sentir ridículo, como me senti ontem. Porém, sempre é bom.
12 - Tenho meu caderno de onde deveria tirar as coisas pra escrever aqui. Ele é ridículo e eu parei de escrever nele. Sim, eu sei que na verdade o ridículo sou eu, mas como ele é uma imagem minha, logo, eu acho que já sou ridículo de tabela pelo meu caderno ridículo que não tem culpa de ser o que é, coitado. Obrigado pela compreensão.
13 - Achei o caderno. Vou postar mais tarde a título de compromisso, nada mais!
14 - Agora parece que as idéias estão em ordem, começemos.

Mera amostra de coisas desordenadas, de capítulos de livros diferentes. É horrível o esforço que eu tenho que fazer para dar sentido pra isso tudo. Na SAB-Sul foi falado do caminho das pedras. O arqueólogo que se criou na academia através do curso de História. Desde o último post, 10 de Abril, parece que eu decidi isso. Serei arqueólogo. Nada contra as escolas e professores, mas prefiro me sujar com terra do que com pó de giz, embora isso também seja extremamente acalentador e sugestivo.

O fato é que fugi de mim mesmo desde lá. Não exatamente fugi, mas voluntariamente ia dedicando cada vez menos tempo à coisa até finalmente ela ficar tão pequena perto das outras, que eu não conseguia mais olhar pra ela. Conscientemente, ela sumiu. Inconscientemente ainda estava lá. "Aaaaah, então tu me esqueceu? Seu filho da puta, espera até..." Claro, não dei muita bola pra essa ameaça, era só mais uma voz no meio de "PROUS, 1992, pg 12", "olivancillaria contorduplicata, Linneau, pg 87", "o nível do oceano segundo FAIRBRIDGE, pg 591. (Fairbridge é um bom nome pra quem é especialista em elevações marinhas, aliás)". Só mais uma? A única.

Odeio ter certeza da minha inconstância nesse sentido. Não sei se vou sequer voltar a escrever de novo, mas seria muito injusto; acabei de fazer as pazes comigo mesmo. Será que guardarei mágoas de mim mesmo? Vamos ver. O fato é que houve um fato que gerou este fato atual. Como bom historiador que tenho a pretensão de ser, foi só a culminância de um processo. Mas que merda odeio ser tão intimista. E eu ainda tenho aquele velho problema, clássico, de aprender algo novo e reduzir tudo posterior à aquilo.

Argh, não estou conseguindo me explicar. Enfim, há momentos de maior passividade, sensibilidade, revolta; e agora é um deles, embora sejam todos juntos, sempre há um maior. E a partir desse maior nós (ou eu, sou tão diferente assim?) as coisas são encaixadas ou forçadas a isso. A funcionar sob essa "óptica". Grande agonia minha aliás, saber que estou perdendo dos outros quando um está em projeção. Sério, isso me angustia demais.

Então, quero ser arqueólogo, tio. Só que eu não precisava ligar o "foda-se" pra todo o resto. Mas precisei, achei que precisava, que ia me sentir melhor assim. E tio, foi incrível, por muito tempo deu certo, quando eu conseguia respirar. Fiquei fascinado: eu planejei algo que deu 100% certo. Mesmo apesar de grandes pesares que aconteceram, eu superei muito facilmente tudo. O que me levou a pensar que sou um insensível, coisa que não sou. Tudo andava nos trilhos como tinha que ser, sem estações, sem paisagens pela janela, fechado e enclausurado em livros, passagens e citações.

Mas, nada é estático. Normalmente eu agradeceria por isso, mas não dessa vez. Eu acho.

Seria melhor se não tivesse acontecido. Mas talvez, se não tivesse, no futuro eu poderia me lamentar por não ter me sentido vivo. É uma das coisas que cobra mais caro, mas que recompensa sem igual, se sentir vivo. Bem, algumas pessoas já sabem, então não vou entrar nos devidos méritos, mas estou desconcertado e tão tacanho quanto antes do suposto "equilíbrio". Minto, houve sim um equilíbrio, eu me sentia bem com as pessoas e elas se sentiam bem comigo, e foi uma das raríssimas vezes que tive certeza disso. É, certas coisas não dá pra negar.

Bem, fui claramente influenciado, mas tinha que escrever mais fatos. De qualquer modo eu estou mais factual. Voltei a ler literatura de lazer e isso me aliviou muito, um dos motivos pras palavras voltarem a dançar na minha cabeça. Fato é que há uma situação com a qual não consigo lidar com segurança e isso me tortura um pouco. Fato é que quando isso me acontece eu sei como reajo e não é lá muito bom, mas me sinto realmente bem. Estou vivo, por esse lado é excelente. Fato é que preciso construir compartimentos e separar mais as coisas.

Chega, por hoje chega. Falta matutação. As idéias estão opacas demais.

sábado, 10 de abril de 2010

Arrepios

Sinto muitos arrepios. O mais estranho, é que eu dividi eles de acordo com o que eles me passam. Tenho vários rótulos hoje, nem todos dá pra ler e eu já esqueci o que muitos deles significam. Outros eu deixei de usar há tanto tempo, que parecem bastante desinteressantes e lhes resta apenas o esquecimento como destino. De todos, lembro de poucos, e uso só um hoje.

Antes de seguir: qualquer semelhança com o romance "O Perfume" do Süskind é mera coincidência, li o livro há cerca de dois anos atrás e fiquei meio apavorado com o excesso de semelhanças, vou ver se ainda falo disso.

Me lembro que organizei e dividi eles quando era bem guri. Pequeno mesmo. Claro, na época eu não conseguia rotular eles de forma devida. Eles não tinham nomes. Eram singulares e próximos uns entre os outros apenas pela quantidade de serotonina que me faziam liberar. Quando resolvi me exilar das coisas, ficando dentro de mim mesmo, revisei os mais importantes, busquei os seus gatilhos, ações que faziam eles funcionar e, deliciosamente, aplicava conforme as ocasiões surgiam.

Os arrepios evoluíam no meu cérebro. Eu procurava proximidades entre eles e existiam ordens de importância. Alguns produziam mais que outros e eu usava esses com bem mais frequência, incrementando e transformando-os em coisas novas, as vezes longe mesmo das esferas dos arrepios. Os velhos e não usados, morriam, incapazes de seres guardados ou transcritos pro papel. Um deles era o "Menina com Pinha" como chamei ele, quando passei eles a limpo. Eu estudava num colégio público na época. Não lembro minha idade, mas foi antes da 6ª série quando troquei de sistema de ensino. Era época de pinhas, pinhão saca? Eles tinham espinhos e a gente ficava tocando uns nos outros, mas elas nao machucavam por causa das roupas grossas de inverno. Claro, as vezes algumas davam no rosto ou algo assim, mas não era grave, ao menos não parecia para nós. Arremessávamos eles até que a ponta dos espinhos desfolhasse e ele ficasse leve e inútil, impedindo qualquer arremesso. Me lembro que estávamos todos brincando assim, organizados em "gangues" e jogando pinhas uns nos outros.

Eu joguei uma pinha totalmente gasta tentando acertar alguém, mas ela voôu débil da minha mão e caiu pra frente, esquecida no meio da fúria guerreira que acometia as crianças. Então uma menina, uma guria que não recordo mais como era, pegou a pinha e ficou olhando pra ela. Ela não me olhou, então não sabia quem tinha jogado, se é que se preocupou em saber. Ficou olhando por uns longuíssimos quinze segundos, interessada a fundo, ate que alguém chamou ela e ela jogou a pinha no chão e correu pra longe dali. Eu tinha olhado ela durante todo esse tempo, sentindo um arrepio tremendo.

Me dei conta disso na hora em que ele terminou, deixando um rastro de pelos eriçados na minha nuca. Não tinha nada a ver com sexo oposto ou uma possível precocidade hormonal. Eu olhava assim pras pessoas procurando arrepios simplesmente porque gostava (e ainda gosto) de sentir os arrepios. Puro deleite pessoal. Fui até lá e peguei a pinha, procurando o que teria sido. O que foi que eu tinha perdido? Eu procurava o gatilho da coisa, o botão que fazia aquilo funcionar, mas a pinha não tinha nada, estava vazia agora. Deserdei do campo de combate atrás da menina, procurei ela por todo o lugar, mas não achei, nem nunca mais acharia. Como um fantasma, ela me deu o arrepio e sumiu.

Esqueci dela, mas a situação prosseguiu, ainda na mesma escola. Eu tinha notas ruins, não conseguia focar atenção na aula, era chato demais. Naturalmente, fui parar no gabinete da sócio-educadora que trabalhava lá. Ela pediu que eu levasse meu caderno de aula. Cheguei lá e senti uma atmosfera diferente, algo novo, que só as crianças conseguem perceber de forma distinta e lhes falta palavras pra descrever como é. Ela me disse que sentasse e comecei a sentir arrepios. Perguntou meu nome e arrepios. Em que ano eu estava e arrepios. Quantos anos tinha e arrepios. A sala e as janelas estavam mudas e a voz dela ecoava na minha cabeça, arrepiando. Ela pegou meu caderno e, começou a folhear as páginas dele, me perguntando coisas. Eu já não conseguia responder com coerência, eu só olhava para a ação, embabascado e arrepiando como nunca antes. Ela falava que minha letra era ruim, que eu tinha que fazer caligrafia e fechou meu caderno de capa azul, encerrando bruscamente meus arrepios. Não lembro de mais nada depois que ela fechou o meu caderno, era como se tudo o que fosse importante na entrevista tivesse acabado no momento que ela me entregou ele. Me lembro da cor oliva das paredes, do céu nublado com neblina na rua, da cara da sócio-educadora, do batom que ela usava! Depois do caderno fechar, nada mais era importante lá. Esse foi o arrepio mais marcante da minha vida, e lembro dele com carinho. Saí de lá extasiado: eu achara o gatilho daquele arrepio tão... completo.

Foram de longe, os melhores arrepios que eu tive, na sala . Me dei conta que as pessoas precisavam observar, manusear algo que eu tinha tocado, que era MEU. Eu também tinha que ficar mudo, quieto demais, concentrado 100% na ação da pessoa, empedrando e virando estátua. Aos poucos eu aprendi a acionar ele, e admito, foi muito divertido! Eu pegava livros da biblioteca e mostrava para as professoras: "Hei, olha esse livro profe!" Ela folheava ele de forma displicente, me deixando louco. Deixava cair coisas minhas no chão, para as pessoas pegarem e examinarem. Esquecia elas em cima da classe, para que me devolvessem...

O realmente interessante disso, é que eu não consigo mais sentir arrepios com a frequência de antes. Por um bom tempo, não fui capaz de sentir arrepios. Os gatilhos aos poucos se tornavam fracos, desgastavam com o uso conforme eu achava coisas pra fazer, isso matava eles um pouco mais porque eu precisava de tempo, lembrando a situação, os botões que faziam eles funcionar. Isso me entregava num furor autista delicioso, me arrepiando só com as lembranças, hoje, não tenho muito tempo para isso. Outra coisa interessante, é que eu conseguia tornar válido um arrepio ou não, analisando ele.

Se eu pensasse: "pinhas idiotas, qual é a graça nelas?", automaticamente, "Menina com Pinha" não funcionava. No começo foi bastante interessante, mas aos poucos eu não conseguia reativar eles de novo, e em breve, só conseguia desativar eles, viciado em pensamento. Eu pensava "se eu pensar, que menina com pinha é ruim, vou cancelar esse arrepio e nunca mais sentir ele de novo", e isso efetivamente acontecia, por mais incrível que possa parecer. Perdi não só arrepios por vício de pensamento, mas já tomei atitudes erradas e tirei conclusões equivocadas por causa disso.

Hoje eu só sinto os arrepios antigos de forma muito, muito gasta. Descobri um novo, que acontece quando estou ouvindo música, mas não vou escrever ele porque posso acidentalmente criar um vício de pensamento. E sim, é imbecil, mas não quero mais perder arrepios. Quando tudo estiver errado eu vou só sentir arrepios e vou ficar bem.

Ultimamente, tenho me esforçado num pequeno projeto subliminar: a pesquisa de arrepios. Eu relembro eles até a exaustão, tentando sentir alguma coisa, incentivando com condições que me façam sentir arrepios naturais. Como o frio. Antes de dormir, me tapo bastante e ligo o ventilador. Me concentro, reviro o acervo da memória e me exponho um pouco ao vento. O arrepio do vento me ajuda a encontrar os arrepios no arquivo. Por essas e outras coisas, as vezes eu mesmo me considero louco, doente, mas me sinto muito, muito bem, e não consigo me imaginar de forma diferente.

Aos poucos consegui encontrar alguns arrepios, mas no combate com as outras obrigações, perco eles de novo, eles fogem de mim. Acho que estou ficando velho pra arrepios, mas vou achar alguma tática que conecte as coisas, lá dentro. Uma delas, foi esta. Escrever isso, me lembrar da escola, foi muito bom. Tive muitos arrepios.

domingo, 4 de abril de 2010

I

Não me dou bem com poucas palavras. Pra isso prefiro ilimitação de caracteres. Não dá pra resumir um sentimento, um tempo, um momento, uma gota de vida nisso. É mais ou menos como funcionam grandes microscópios ou o telescópio Hubble: quanto mais se amplia, mais se tem pra ver e admirar. Eu não consigo falar se não for assim. Não mais.

Crio este lugar com fins terapêuticos. Sou doente por mim mesmo, mas por mais paradoxal que isso possa parecer, isso está mais longe do que nunca do narcisismo. Preciso escrever o que passa, por onde passa e quando passa, pra que eu possa tentar descobrir PORQUE passa. E a única dica que eu tenho, sou eu. E eu acredito que as pessoas são filtros, sujos, de café ou bagaço de fruta. Pegamos a verdade e lemos, coamos através dos medos, crenças e culturas. Sai algo novo e bom, doce se tiver açúcar, mas muito longe dos pés de café, das laranjeiras, das fazendas.

Eu quero a fruta, sentir o cheiro dela, pegar nas folhas e esmagar elas na palma da mão. Mas nada é de graça. Faço isso pra me entender, ou ficar mais doente ainda, nada mais.

Muito vou dizer "eu" e "outros". Vou dar pulos de lá pra cá, dentro de mim, dentro da idéia das coisas, sem paradas programadas e sem guias. Não quero que me entendam. Pff, nem eu sei sobre isso! Quero que... Fiquem aí mesmo, do jeito sempre foram, porque eu sei que vocês que estão longe não vão mudar, os próximos mudarão pouco. Comparado a mim, que prevejo catástrofes subjetivas.

Tenho um terrível senso de regularidade criativa. Os recortes do mundo aparecem todos de uma só vez, dadaístas. Primeiro vou tentar catalogar eles aqui e em um caderno pessoal (minha enésima tentativa), sem exatamente uma ordem de importância, e o blog vai ser o resultado final. Posso parar de escrever do nada, mas isso não seria nenhuma novidade. A idéia é: as coisas mudam, por ora pouco ou muito de cada vez, e agora mudam rápido demais. Seja o que for que acontecer aqui, nesse lugar virtual, aconteceu comigo. Ou escrevi ou parei pra sempre-até-a-próxima-vez.

Um dos grandes incentivos pra começar aqui foi o desperdício. Digamos que sou um frequentador constante do transporte coletivo da cidade de Porto Alegre. Moro a meio termo do urbano e do rural (a microrregião é considerada "rurbana", no joking) e pego ônibus pra caralho. Pelos meus cálculos, nas viagens do dia-a-dia perco três horas em bus. Ainda não sei por que, e já me perguntei demais, mas é exatamente nos coletivos que isso aflora de forma mais violenta. Músicas, frases, versos, explicações sobre absolutamente qualquer coisa. Sinto meus ossos racharem, de cansaço, do dia cheio de serviço e aula, das músicas no MP4... E derivo.

Mas fica por isso mesmo. Só vomito, chego em casa, tomo um banho e estou limpo. Amanhã será um novo dia, igual a esse, mas novo, e é visível a diferença entre uma embalagem nova e uma velha. As vezes algo ainda fica ali, renitente demais. Ignoro na maior parte das vezes. Há alguns dias cheguei à conclusão de que isso era errado. Hoje parece sacrilégio. Mas quem sabe amanhã, todas essas linhas fiquem sem continuidade. Sem sentido. E eu ache outra coisa pra fazer, ou nada.

Vou curar isso. Espero que esse tratamento, esses pequenos curativos de agora, que o médico os leve em consideração. Que depois se atreva a passar uma sutura nesse lugar de onde brotam coisas. Talvez um dia, quem sabe, ele até costure a moleira com a qual eu nasci. Mas desconfio desse cara. Esse cara sou eu.